sábado, fevereiro 13, 2010

José Sócrates no país dos inimputáveis

Perante aquilo que foi revelado na última sexta-feira pelo semanário ‘Sol’, José Sócrates só tinha duas opções minimamente dignas: ou desmentia de imediato tudo o que ali estava escrito ou apresentava nessa mesma tarde a demissão. Infelizmente, a dignidade não costuma receber muitas visitas do primeiro-ministro. Por isso, Sócrates preferiu zurzir contra o jornalismo de "buraco de fechadura", em mais uma actuação digna do Óscar da cara-de-pau.
Convém que as pessoas ponham na cabeça que já estamos muito para além de qualquer combate ideológico, de qualquer braço-de-ferro entre esquerda e direita. Continuar, neste momento, a defender a actuação do primeiro-ministro perante revelações daquela dimensão não é simplesmente uma divergência de opinião – é uma obscenidade, que não se pode desculpar pela partilha de um cartão cor-de-rosa ou pela devoção a vozes autoritárias e cabelos grisalhos.
Daniel Oliveira escreveu no ‘Expresso’ que "a divulgação de informação sobre escutas telefónicas que não foram usadas pela justiça é um insulto aos direitos cívicos". Não, Daniel: o que é um insulto aos direitos cívicos é um procurador-geral da República ser confrontado com indícios daquela gravidade e entender que não há nada para investigar. Insulto aos direitos cívicos é ver a política e a justiça enroladas na mesma cama. Insulto aos direitos cívicos e à nossa democracia é José Sócrates e Pinto Monteiro continuarem alegremente nos seus cargos, como se fossem dois inimputáveis dispensados de apresentar contas ao país


Por João Miguel Tavares